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Espíritos no Mangue - O trágico vôo 401

  • Foto do escritor: sociedademedieval
    sociedademedieval
  • 23 de abr. de 2020
  • 17 min de leitura

Atualizado: 13 de ago. de 2020

Um desastre aéreo normalmente acontece quando uma sucessão de erros, falhas e ocorrências se dão numa determinada ordem. Somados, formam a receita ideal para uma catástrofe.


Esta é uma história real, baseada nas conversas registradas na caixa preta encontrada entre os destroços da aeronave.

Até hoje, é a única história de um desastre aéreo que causou mais espanto com o que aconteceu depois da tragédia.


ATENÇÃO: O que você vai ler a seguir é perturbador.


Capítulo 1 – A tripulação

A aeronave acidentada é um Tristar prefixos PT-LUL.

O Comandante Roberto Melo estava no comando do vôo. Melo trabalhava na ALIVA à 7 anos.


O Primeiro oficial Beto Barbosa atuava como co-piloto do Tristar. Com 43 anos, estava a seis meses na ALIVA.


O engenheiro de vôo Fabio Oliveira, com 41 anos, completava a tripulação técnica.

Capítulo 2 – A nova era

Ouro Negro, a mais importante cidade do litoral brasileiro, é banhada à leste pelo Oceano Atlântico que deu à Ouro Negro belas praias, trazendo turistas que impulsionam a economia local. Pelo lado oeste a natureza foi menos pródiga: os Mangues formam uma das maiores regiões alagadas do mundo, um extenso e escuro pântano localizado sob a rota de aproximação oeste para o Aeroporto Internacional de Ouro Negro.

Na cabine, cuidavam dos passageiros 9 comissárias.

Capítulo 3 – A premonição

Caren Brana era comissária na ALIVA. No começo de dezembro de 1997, enquanto trabalhava na galley (cozinha) durante um vôo entre Porto dos Milagres e Riacho Doçe, subitamente teve uma visão: um Tristar da ALIVA batendo nos mangues numa noite escura. A sensação foi tão forte que Caren atirou-se numa poltrona vazia e pediu ajuda às suas colegas comissárias.

Assustadas, perguntaram à Caren a razão de seu mal estar. Caren respondeu aos soluços:

- Vamos perder um Tristar nos mangues... perto do Natal.... vai ser de noite... morrerá muita gente.

Suas colegas tentaram acalmá-la.

-Bobagem, Caren: nada disso vai acontecer, disse uma delas.

- Não! - retrucou Caren com firmeza - Eu tenho visões. Desde minha adolescência é assim: eu vi um trem colhendo um carro cheio de colegas, cinco dias antes do acidente. Eu vejo as coisas e elas aconteçam.

Uma das comissárias perguntou:

-Estaremos no avião, Caren ?

-Sim!. E vamos todas morrer!

Capítulo 4 – O trágico natal

No dia 23 de dezembro, Roberto Melo acordou cedo e cuidou do jardim de sua casa. Sua jornada naquele dia seria apenas uma ida e volta entre Ouro Negro e Asa branca.


Eram 22h15 quando Melo ordenou que os motores fossem ligados. As 22h23 o comandante Melo liberou os freios e o Tristar iniciou sua decolagem. O Tri jato decolou vigorosamente, pois levava pouco combustível, para apenas 3h15 minutos de vôo.


Eram 22h27 quando o Aliva 401 solicitou ao controle de vôo uma rota mais direta, sendo atendido depois de alguns segundos. Ajudado por um vento de cauda, a aeronave tirou parte do pequeno atraso na partida.


O vôo transcorreu normalmente e aproximava-se de seu destino final. O controlador observava o progresso do Tristar, que já cruzava a 3.000 pés, quando, a 01h23 o código 7700 (emergência) foi acionado no transponder do Jato. O controlador mal teve tempo de perceber a mudança quando recebeu a primeira mensagem do Tristar.

O Tristar manobrava sobre a escuridão do mangue, em aproximação para a pista 09L. Na reta final, ao passar pela marca de 3.000 pés, O primeiro-oficial Beto Barbosa percebeu que a luz de indicação de travamento do trem de pouso dianteiro não estava acesa.

A apenas 1.500 pés de altura e a segundos do pouso, o cauteloso Comandante Melo realizou uma arremetida.

Arremeter é um procedimento em que o piloto decide voltar a subir, como se estivesse decolando novamente. É utilizado para garantir a segurança da aeronave.


O Tristar ganhou altura e solicitou à torre instruções, recebendo como resposta:

-Aliva 401, suba e mantenha 2.000 pés, contate o controle de saída na freqüência 128.6.

O Tristar executou uma curva para a proa 360 e depois tomou o rumo 270, sobrevoando os mangues. A tripulação solicitou e obteve autorização para descrever uma série de órbitas, enquanto tentava descobrir o problema.

Capítulo 5 – O início do fim

Fabio Oliveira era engenheiro na ALIVA, responsável pelos Tristar na frota e fã do moderno jato, que conhecia como poucos.

Quando surgiu o problema, Oliveira prontificou-se a ajudar a tripulação. O comandante Melo acreditava tratar-se apenas de uma lâmpada queimada, ao invés de um real problema no mecanismo do trem de pouso.

Para verificar se o trem estava baixado e travado na posição segura, era preciso descer na baía de eletrônicos, situada numa caverna sob o piso da cabine de comando e de lá observar através de um periscópio especialmente desenhado para esta função, se o trem de pouso dianteiro estaria travado. O acesso à baía era feito por uma escotilha no chão da cabine de comando.

O engenheiro Oliveira e o primeiro-oficial Barbosa desceram, encontrando dificuldade em enxergar claramente na apertada e escura baía. O Tristar voava no piloto automático, cumprindo sua órbita a 2.000 pés, enquanto a tripulação tentava resolver o problema.

Impaciente, o comandante Melo ergueu-se de seu assento. Ao fazê-lo, sem perceber empurrou a coluna de comando e desligou o piloto automático.

O sistema de vôo estava configurado para, após uma pequena pressão de 15 a 20 libras sobre a coluna de comando, desligar o piloto automático.

O comandante Melo e sua tripulação não perceberam que o Tristar iniciara por contra própria uma suave descida, abandonando a segura altitude de 2000 pés. Prosseguindo na tentativa de resolver o problema, minutos após, Barbosa e Oliveira confirmaram: o trem estava baixado e travado; o Tristar poderia pousar com segurança.


Os 3 tripulantes voltaram às suas posições. O comandante Melo chamou a torre de Ouro Negro e informou que estava pronto para reiniciar sua aproximação. Já em seu assento, o primeiro-oficial Barbosa examinou o painel à sua frente. Espantado, descobriu que o Tristar voava mais rápido que o previsto, estava a 190 nós. Olhou para o altímetro que marcava menos de 100 pés de altitude. Sua voz saiu num tom elevado, denunciando sua surpresa:

-Nós fizemos alguma coisa com a altitude!

-O quê? Perguntou surpreso o comandante Melo.

-Ainda estamos a 2.000 pés, certo?

O Tristar começou a girar em seu eixo longitudinal. Em apenas sete segundos, a asa direita já estava quase 20º abaixo da linha do horizonte. O jato continuava a girar à razão aproximada de um grau por segundo. Voando numa noite escura e sem referências externas, os tripulantes não notaram a inclinação do avião.

Depois que passou dos 20º de inclinação, a razão de rolagem aumentou de um para 5.5º por segundo.

Melo olhou para seu altímetro. Olhou também para fora: notou um estranho brilho nos visores frontais: as luzes de aproximação do Tristar começavam a ser refletidas nas águas escuras dos mangues. Eram 01h32. A voz tensa do comandante Roberto Melo ficou registrada no gravador de cabine:

-O quê está acontecendo aqui?

Foi então que o controlador de vôo percebeu que havia algo de muito errado com o Tristar.

O comandante Melo avisa o controle de vôo e declara emergência:

- Aliva, Mayday, Mayday, emergência!

A velocidade da aeronave caiu para 108 nós. O Tristar estolou descontrolado e entrou num mergulho.

Estol é uma perda total de sustentação. Uma aeronave em situação de estol não está voando mas sim caindo.

O comandante Melo lutava desesperadamente pela sobrevivência. As 01h37 o Controle de Vôo chama o Tristar pelo rádio:

- Aliva 401, você já consegue controlar a aeronave?

Melo responde imediatamente:

- Negativo. Incontrolável.

Mal terminou de dizer isso, e a tripulação do Tri Jato deparou-se com montanhas. Alarmado, o comandante Melo ordenou: - Uma montanha! Curva à direita! Vamos bater na montanha! Acelere!

O primeiro-oficial Barbosa exclama desesperado:

- Meu Deus, não!

Capítulo 6 – O Terror entre os passageiros

Dentro da cabine de passageiros, a atmosfera era de absoluto terror. Quando situações de pânico extremo acontecem, ao contrário do que mostram os filmes, a maioria das pessoas entram num estado conhecido como "pânico negativo": ficam imóveis, caladas, olhos fechados ou vidrados, incapazes de se mover ou emitir sons. O cérebro entra em curto-circuito e se recusa a processar a dura realidade, a confrontar a real iminência da morte.

Era o caso. Choros abafados, alguns soluços e nada mais. Nenhuma histeria, apenas o mais profundo e incapacitante terror. Mover-se pela cabine era impossível, pois a própria aceleração pela queda da aeronave prendia os passageiros aos seus assentos. Se os passageiros mal podiam manter-se de pé, ao menos alguns deles podiam escrever. Muitos o fizeram: mais de 30 cartas de despedida foram escritas durante os longos minutos que o Tristar lutou contra seu destino.

A comprovação foi encontrada em meio aos destroços do jato: o passageiro Sandro da Silva, morador de Santana do Agreste, escreveu em uma das páginas do livro que portava consigo:

"O avião está Caindo. Meu Deus, vamos todos morrer agora!"...

Na cabine de comando do jato a situação fugia rapidamente de controle. Com as montanhas perigosamente por perto, o Tristar descia à uma razão de 1,350 pés por minuto. Comandante Melo aproximava-se de sua batalha final.

O Primeiro-oficial Barbosa começou então a tentar estabilizar a aeronave com golpes nos pedais que acionam o leme de direção. O leme de direção do Tristar começou a ser aplicado com muita velocidade e força por várias vezes seguidas, em direções distintas, muito rapidamente.

O co-piloto aplicava, com toda a força, pressão nos pedais do leme, fazendo-o girar de sua posição máxima à direita e à esquerda. Em questão de segundos, os movimentos ficaram tão intensos que a cauda não agüentou. O som de seu desprendimento ficou gravado na caixa preta.

O estabilizador horizontal se desprendeu numa fração de segundos. Toda a cauda, inclusive o leme de direção, desprendeu-se da fuselagem.

O Comandante Melo mais uma vez chama o controle de vôo e num tom desesperado solicita ajuda:

- Mayday, Mayday!

Sem resposta do controlador de vôo, o primeiro oficial Barbosa grita ao microfone:

- (aos gritos) Caindo, estamos caindo! Socorro estamos caindo! Repito, estamos caindo!

O controlador de vôo, sentindo-se impotente diante da terrível situação, responde:

- Aliva 401, vocês estão caindo, entendido.

Capítulo 7 – Estamos Caindo


No segundo seguinte, a situação que já era tensa torna-se dramática. Vozes femininas são claramente ouvidas e registradas pela caixa preta. Ouve-se pela primeira vez, dentro da cabine de comando, gritos desesperados vindos da cabine de passageiros.

A gravação da caixa preta começa a registrar o som das turbinas do Tristar nas águas dos mangues. Ouve-se claramente a aceleração dos motores, mas o nariz do jato continua teimosamente para baixo, a despeito de todos os esforços dos tripulantes.

O ensurdecedor ruído de vários alarmes soando pela cabine de comando, somado ao ruído dos motores em potência máxima cria uma cacofonia angustiante que era aumentada pelos gritos dos próprios tripulantes.

A estrutura do Tristar começa a trepidar violentamente, condição instantaneamente percebida pelo comandante Melo e que deixa os 3 tripulantes desesperados.

O gravador de cabine registra os gritos, cada vez mais altos, vindos da cabine de passageiros.

O desespero dos tripulantes fica gravado para sempre na caixa preta. Eles agora apenas gritam entre sí. O Tristar se aproximava do solo cada vez mais, sem qualquer controle.

Aos ocupantes do tri jato, poucos segundos de vida restavam. Mesmo assim, o comandante Melo ainda gritava ordens desesperadas na cabine, embora o Tristar já não obedecesse mais aos seus comandos.

A situação já está fora de controle. Desesperado, o comandante Melo pede aos gritos:

- Subam os flaps! Subam os flaps! Subam os Flaps!

A situação era dramática. O Aliva 401 e seus 263 ocupantes não têm mais salvação. O Jato entra no seu derradeiro mergulho, girando 200º em seu eixo e entrando numa descendente abrupta, nariz firmemente apontado para baixo.

Impotentes, os pilotos assistem o solo aproximando-se vertiginosamente. O transmissor de rádio da cabine de comando foi acionado quatro vezes de forma rápida e intermitente, mas mensagem alguma foi transmitida. Os pilotos, aterrorizados, apenas observavam enquanto o enorme Tristar mergulhava descontrolado rumo ao solo.

Começam a soar pela cabine os alarmes de baixa altitude, que ficam gravados na caixa preta:

Sink rate! Sink rate! Pull Up! Pull Up! (Caindo! Caindo! Suba! Suba!)

Sem qualquer controle, nos segundos seguintes, o Tristar mergulhou de forma ainda mais acentuada. As forças gravitacionais que atuavam sobre sua estrutura ficaram tão intensas que os dois motores acabaram se separando das asas.

Os tripulantes tentam de tudo, mas o tristar não responde mais aos comandos. Passam-se apenas mais seis segundos, até que a caixa preta agora grava um som ainda mais apavorante: o ruído metálico, altíssimo e agudo, da asa direita partindo-se.

Comandante Melo grita apavorado:

- Nós perdemos uma asa!

O trijato agora descia como um charuto mortal, asa esquerda ainda atada à fuselagem, combustível jorrando pelas linhas de alimentação que uniam os tanques aos motores recém separados.

A bordo da cabine de comando, os pilotos assistiam horrorizados a aproximação inexorável do solo. O Tristar despencava diretamente sobre os mangues, praticamente na vertical, como um míssil.

Ao fundo, ainda podiam ser ouvidos os gritos desesperados dos tripulantes:

Comandante Melo: Aplique potência máxima! Força total!

Primeiro-oficial Barbosa: Para a esquerda, vire pra esquerda, saia dessa curva!

Comandante Melo: Segura, segura, segura! Beto! Puxe! Puxe Beto!

Primeiro-oficial Barbosa: Ai meu Deus... Socorro!

Comandante Melo: Beto, não entre em pânico!

A bordo da cabine de comando, a voz esgarçada do comandante Melo foi gravada em três rápidos grunhidos, mostrando o enorme esforço físico que ele exercia para evitar a queda. Sua respiração ofegante e o som de objetos caindo e batendo dentro da cabine de comando, ficam gravadas como os últimos sons a bordo do Tristar.

O terror, a impotência e a visão de que a morte virá em questão de segundos paralisam os tripulantes.

Por uma fração de pouco menos de um segundo, fica gravado na caixa-preta do Tristar um aterrador grito de pânico, emitido pelo Comandante Melo. Palavras não são capazes de traduzir o horror contido no curto grito, que fica como epitáfio para o vôo 401.

Comandante Melo: Aaaaaaaah!

A mensagem gritada é tão trágica quanto curta.

Às 01h42 da madrugada de 24 de dezembro de 1998, o Tristar entrou voando a 400 km/h no mangue. A desintegração foi imediata. A fuselagem partiu-se em três grandes partes, separando-se da asa e da cauda. Muitas partes afundaram e desapareceram de vista. Outros pedaços desmembrados, como a gigantesca carcaça, permaneceram sobre as águas, gigantescas lápides a marcar o local onde 263 pessoas perderam a vida estupidamente.

Capítulo 8 – A Destruição

Por sinal, estes minutos de agonia, desde o início da queda até o impacto com o solo, certamente estão entre os mais terríveis já vivenciados por qualquer ocupante de uma aeronave. O Tristar despencou em uma angustiante sequência de parafusos, girando rapidamente e ganhando grande velocidade horizontal, descendo a razão de aproximadamente 4 mil metros por minuto, provocando uma sensação de extremo desconforto aos seus infelizes e aterrorizados ocupantes.

A destruição foi total. Em segundos, dezenas de corpos e restos humanos espalharam-se pela área. Membros dilacerados, partes irreconhecíveis dominavam as centenas de metros por onde os destroços se espalharam. Poucas vezes na história da aviação uma queda foi tão devastadora.

Horas depois, equipes de resgate chegaram ao que restou da cabine de comando em busca dos tripulantes.

Roger Rogay, capitão da força aérea, relatou que nem mesmo com muitas décadas de profissão, acostumado, portanto a ver as piores cenas, jamais vira nada semelhante. Seu depoimento é doloroso:

“Uma das primeiras coisas que vi foi um par de mãos humanas, uma masculina e uma feminina, agarradas num aperto firme. Somente as mãos, amputadas na altura dos pulsos. Nada mais... A quantidade de corpos e a horrível mutilação de quase todos eles... Meu Deus, nunca vi nada assim... Mas o pior mesmo foi encontrar o corpo de uma menina e sua boneca, ambos pendendo da fuselagem destruída. Não agüentei e chorei ali mesmo. Sou soldado, mas também sou pai de uma garotinha da mesma idade."

Dentre os 263 ocupantes, havia 45 crianças com menos de 12 anos de idade. Muitas famílias viajavam em férias, o que torna este acidente ainda mais trágico. No dia seguinte à queda, os gravadores de dados e vozes foram encontrados em bom estado, e nas semanas seguintes, a decodificação dos mesmos permitiu elucidar as causas da tragédia.

Capítulo 9 - Do luto ao espanto

Regina Alexsandra, uma comissária da ALIVA, estava no ônibus da tripulação quando foi avisada do desastre. Imediatamente lembrou-se da premonição de sua amiga Caren e irrompeu num pranto descontrolado. A dor atingiu todos da família ALIVA, especialmente pelo desastre ter ocorrido na cidade-sede da empresa, Ouro Negro.

Mas foi em fevereiro de 1999 que a empresa passou do luto ao espanto. Num Tristar idêntico ao acidentado, começaram a acontecer fatos estranhos. De uma hora para outra, tripulantes trabalhando na galley de porão reclamavam que a temperatura estaria fria demais.

Essa galley era uma característica única do Tristar, de maneira a permitir uma maior ocupação de assentos na cabine principal. O acesso de tripulantes e refeições era feito por um pequeno elevador.

O comissário Marcos Dogue, trabalhava esquentando as refeições quando notou uma névoa começando a se formar na galley. Parou o que fazia e olhou com curiosidade para o estranho fenômeno: era como uma pequena nuvem que crescia no exíguo espaço: para seu espanto, começou a se formar dentro dessa nuvem uma imagem. Paralisado de medo, Marcos viu um rosto lentamente surgir: a face do engenheiro de vôo Fabio Oliveira.

Marcos, em desespero, subiu para a cabine principal. Atordoado, nada disse aos colegas, exceto que não passava bem. Com medo de ser afastado por insanidade, guardou em segredo a aparição. Mas menos de um mês após, soube de outro incidente a bordo do mesmo avião.

Capítulo 10 - A volta do Comandante

Certo dia, durante os procedimentos de embarque no aeroporto de Sucupira, a comissária Marilu, chefe de um vôo com destino à Ouro Negro, percebeu a presença de um comandante da ALIVA sentado na primeira classe. Conferindo sua lista, Marilu não encontrou registro de nenhum tripulante voando como passageiro extra.

Marilu aproximou-se e indagou o comandante. Este, com uma estranha expressão no rosto, que misturava um claro desconforto e tensão, olhava fixamente para frente e não respondia às perguntas da comissária, que começou a ficar irritada. As constantes perguntas sem resposta atraíram a atenção de outros passageiros da primeira classe.

Perdendo a paciência, a comissária foi até a cabine e chamou o comandante do vôo, para que ele tentasse obrigar o estranho tripulante a se comunicar. Ao chegar na poltrona, o capitão do vôo reconheceu o comandante silencioso.

Sem se conter, gritou: - Meu Deus é Roberto Melo!

Na frente de todos, a silenciosa figura desapareceu no ar. O vôo foi cancelado, passageiros histéricos tiveram que ser atendidos e acalmados. E com este incidente, a imprensa tomou conhecimento que havia algo a mais nos aviões da ALIVA.

O livro de bordo do avião, onde as tripulações reportam anomalias, discrepâncias e panes, começou a ficar cheio de anotações como estas:

"Aeroporto RQS... durante reabastecimento... Vice Presidente da Aliva primeiro a embarcar... cumprimenta comandante no avião... percebe ser Roberto Melo... Vice Presidente sai do vôo."

Vôo Tabacópolis - Ouro Negro... Comandante Melo visto por 3 tripulantes que tentam falar com ele... Melo não responde e desaparece na frente dos três... avião inteiramente revistado... vôo cancelado."

Os livros de bordo de mais duas aeronaves passam a colecionar anotações como estas:

"Funcionários da empresa FoodRel reabastecendo a galley de primeira classe... saem correndo do avião e recusam-se a voltar... homem com roupa de segundo oficial teria aparecido na galley... e desapareceu em pleno ar logo e seguida.”

“Comissária abre o compartimento de bagagens e dá com o rosto de Roberto Melo dentro do compartimento olhando fixamente em seus olhos... comissária desmaia... vôo atrasado.”


Capitulo 11 – As vozes

O Co-piloto Ari Oliver, iniciando check pré-vôo, faz a volta olímpica na aeronave. Partindo do nariz da aeronave, o co-piloto dá uma volta completa no sentido horário, vistoriado externamente, verificando as condições externas da aeronave.

Quando retorna ao seu assento na cabine, encontra um engenheiro de vôo sentado em sua poltrona.

O engenheiro olha para Ari e diz:

- já fiz o pré-check, não se preocupe.

Ari fica aterrorizado ao perceber que o engenheiro era Fabio Oliveira, que desaparece subitamente em seguida, na sua frente.

Esta foi à primeira vez registrada que uma das aparições fala com alguém, mas não a última. Na segunda, um comandante embarcou para pilotar um Tristar em Tangará, e deu de cara com Oliveira dentro da cabine. Assustado, parou e olhou diretamente para Oliveira, que disse:

- Não haverá mais nenhum acidente com Tristar na Aliva... nós não deixaremos que isto aconteça.

Mas o mais extraordinário aconteceu no vôo 305, que estava estacionado em Roseiral, preparando-se para um vôo com destino à Cidade de São Dimas e Saramandáia. Enquanto preparava as refeições, uma comissária viu o rosto do engenheiro Oliveira formando-se no vidro de um dos fornos da Galley do porão. Aterrorizada, subiu para a cabine principal e chamou um colega.

Decidiram retornar à galley e ao chegar, ambos viram a face de Oliveira. A aparição disse simplesmente:

- Cuidado com fogo neste avião!

O vôo decolou e pousou na Cidade de São Dimas sem problemas. Ao dar a partida para a continuação para Saramandáia, o motor número três apresentou uma pane séria, obrigando o vôo a ser cancelado. A tripulação técnica foi instruída a trazer a aeronave de volta à base de manutenção de Ouro Negro no dia seguinte, fazendo o vôo de traslado (sem passageiros) com apenas dois motores.

No dia seguinte, a aeronave iniciou sua decolagem de São Dimas com apenas três tripulantes à bordo. Ao chegar na V-R, o motor número 1 explodiu e começou a pegar fogo.

A V-R é a velocidade na qual o piloto inicia a ação de levantar o nariz da aeronave do solo para decolagem. Nessa velocidade, a aeronave deve ser capaz de decolar mesmo com falha em um dos motores.

O Tristar, voando a apenas 15 metros acima do solo, mal conseguiu evitar os obstáculos e prédios ao final da pista. Minutos depois, tendo ganhado um pouco mais de altitude, a tripulação iniciou o retorno e conseguiu pousar em segurança.

O incidente trouxe ainda mais exposição na mídia ao drama da Aliva. Tripulantes começaram a pedir para serem transferidos de equipamento. Programas de TV começaram a falar insistentemente do assunto. Por outro lado, malucos, curiosos e médiuns faziam reservas para voar nos aviões "assombrados" da Aliva.

A empresa declarou que os incidentes eram apenas boatos, desmentindo seus tripulantes. Em carta interna, ameaçava com demissão sumária qualquer nova manifestação ou vazamento de informações para o público ou a imprensa.

Dois fatos provam que algo anormal estava mesmo acontecendo: os livros de bordo de três aeronaves foram substituídos de um dia para outro, sem maiores explicações. E mais importante, as aparições cessaram por completo no início do ano 2000.

Capitulo 12 – Causa descoberta

Investigações e documentos comprovam um fato: as três aeronaves envolvidas nas aparições tinham algo em comum. Durante suas revisões de rotina, as três tiveram partes, peças e sistemas trocados ou substituídos por peças que foram tiradas dos destroços do Aliva 401. Este é um procedimento usual. Como muitas partes do Tristar foram resgatadas e levadas para um hangar em Ouro Preto para os trabalhos de investigação, após a conclusão dos trabalhos, a Aliva recondicionou muitas peças, economizando um bom dinheiro. Todas foram lavadas, recondicionadas, testadas e aprovadas pelos técnicos da empresa.

O primeiro avião a entrar no hangar para um check mais completo recebeu a maioria destas peças tiradas do Tristar acidentado. Outras aeronaves que também receberam peças, foram justamente aquelas em que foram registradas o maior número de aparições:

A direção da Aliva percebeu o fato e mandou a diretoria de manutenção retirar todas as peças vindas do 401. Foi só assim que o comandante Melo e o engenheiro Oliveira deixaram de aparecer nos Tristar da empresa.

Capitulo 13 – O Contato

John G. Fuller, respeitado autor e jornalista americano, é o responsável pela descoberta e revelação ao público de muitos destes fatos. Publicou um livro sobre o assunto, The Ghost of Flight 401 “O fantasma do vôo 401”, onde relata todo o drama do acidente e dos fatos que se seguiram.

Relata também o contato feito através de uma médium, Marcia Sensi, entre o Engenheiro Fabio Oliveira, sua esposa Verusca e sua filha Laura.

Fuller conheceu no curso das investigações essa médium, que afirmava estar recebendo mensagens de Oliveira. Uma sessão mediúnica foi marcada. Fuller anotou todas as mensagens recebidas por meio de uma Tábua Ouidja. Entre estas:

"Laura, seja uma boa menina... eu te amo muito."

"Gê, te amo... lágrimas não ajudam...

E uma mensagem que aparentemente não fazia sentido:

"os ratos já saíram do sótão?"

Impressionado, Fuller contatou a família de Oliveira e marcaram um jantar em Ouro Negro. Cuidadosamente, Fuller foi contando das suas descobertas, até que tomou coragem e relatou as frases anotadas na sessão. Verusca, até então cética, explodiu em lágrimas:

- Gê foi um apelido que Fabio inventou para mim em nossa lua-de-mel e nunca mais usou... e os ratos no sótão aqui de casa... só ele e eu sabíamos.

Todos se emocionaram. Foi quando Verusca contou um fato até então escondido por ela. Meses antes do acidente, um telefonema foi dado para a casa deles. Verusca atendeu e uma voz masculina, num tom ameaçador, disse simplesmente:

- Seu marido Oliveira morreu num desastre aéreo.

Irritada, Verusca desligou e virando-se para Fábio, que tomava tranquilamente café ao seu lado, relatou a conversa. Oliveira fez pouco caso:

- É um trote estúpido e cruel, Verusca. Não ligue para isso.

Meses depois, Verusca atendeu outro telefonema. Do outro lado da linha, uma voz extremamente grave e trevosa. Era um homem dizendo trabalhar na coordenação de vôos da Aliva. Queria falar com Oliveira, que estava nesse dia de folga em casa. Fabio atendeu e depois de alguns minutos disse à Verusca:

- Querida, fui chamado para uma substituição. É um vôo ida e volta para Ouro Negro. Estarei em casa amanhã cedo.

Fabio saiu para o aeroporto. Uma hora depois e ainda pensando no assunto, Verusca tomou um choque: reconheceu a voz trevosa que meses antes tinha passado o trote. Era a mesmíssima voz que chamara seu marido horas atrás para assumir o vôo. Desesperada, Verusca ligou para a empresa, mas o Tristar já havia partido com Fábio, no vôo Aliva 401.

Dias após os funerais, Verusca foi até a empresa, tentando descobrir a identidade do funcionário de voz estranha que convocou Fábio para o fatídico vôo. Foi recebida pelo chefe do departamento de escala, que coordena quais tripulantes farão quais vôos.

O homem calmamente levou-a até uma sala reservada, e com tranqüilidade, revelou que ninguém em seu departamento e até onde ele soubesse, em toda a empresa, havia convocado Fabio Oliveira naquele dia para trabalhar no vôo 401.

- Foi uma surpresa aqui no departamento quando ele se apresentou.

Já estávamos tentando chamar outros tripulantes em "stand-by" quando Oliveira apareceu. Foi muito bom para nós naquele dia, mas uma trágica coincidência para Fábio. Sinto muito, Sra. Verusca.



 
 
 

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